É muito interessante como algumas coisas que parecem óbvias às vezes levam tempo para que a gente perceba escancaradas na nossa frente. Eu trabalho com edição de vídeo profissionalmente desde 2019, mas só fui entender que este ramo de atuação é o qual quero trabalhar pro resto da vida agora em 2023. Cheguei a esta conclusão refletindo no que é conhecido como “Ikigai”, a união do que amo fazer, o que faço bem feito, o que ganho por fazer e o que faz bem ao mundo.
Apesar de óbvia, chegar a esta conclusão não foi algo simples. Eu sempre tive a percepção de ser o tipo de pessoa que é boa em muitas coisas, mas que não se destacava em nada. Voltando para trás na minha infância, lembro-me de sempre estar na média da minha turma – inteligente demais para não ser considerado um aluno defasado, mas preguiçoso demais para não estar entre os destaques da classe. Eu simplesmente não me importava em estar no rol de “gênios” porque sabia, mesmo inconscientemente, que isso demandava esforço e dedicação.
O problema é que eu levei esta característica por toda a minha fase de estudos, incluindo a faculdade. Ora, se ficar na média já era o suficiente para passar de ano, porque me esforçar para ser excepcional em algo?
No entanto, agora como adulto, casado e profissional autônomo, percebo como isso afetou minha autoestima e limitou minhas possibilidades de carreira e meu relacionamento com outras pessoas, em especial meus colegas de classe. Apesar de achar legal ser o tipo de aluno que não precisava se esforçar para tirar boas notas nas provas, este comportamento tolheu minha capacidade de autodisciplina, essencial para alcançar grandes coisas.
Isso se tornou evidente quando estava no ensino superior, pois, ao contrário da escola, o objetivo de uma faculdade é estudar com foco no mercado de trabalho. Na verdade, a própria natureza da minha escolha em fazer “Gestão da Informação” (GI) na UFPR foi um sintoma da minha síndrome do meio-termo – eu tinha a vontade de cursar Design ou Arquitetura, mas tinha medo de não conseguir passar no vestibular. Não tentar significa não fracassar. Assim, escolhi um curso que representava estas minhas características de “pato” – voa, nada e anda, mas não é ótimo em nenhum destes atributos.
Curiosamente, estudar GI abriu meus olhos para muitas áreas de conhecimento que, até então, desconhecia. Aprendi a programar, coisa que parecia de outro mundo na época de escola; Estudei contabilidade e estatística, tornando claro para mim que trabalhar com exatas não era minha praia; Conheci o mundo burocrático e exaustivo da Gestão de Documentos; Vislumbrei um pouquinho da área de Design, mostrando o caminho que eu poderia tomado na minha carreira.
Apesar dos altos e baixos, consegui me formar como um aluno mediano. Finalmente poderia dizer que era formado em uma universidade federal! Porém, e agora? Sem poder me ancorar na mediocridade nos estudos, como encarar o “mundo lá fora?”
A minha sorte foi em 2017 ter conseguido um estágio durante o curso que abriu ainda mais meus olhos para as possibilidades de trabalho que haviam. Apesar de não ter experiência com gestão de redes sociais, consegui deixar uma boa impressão no processo seletivo e fui selecionado como o mais novo estagiário da Quíron Educação, um pequeno negócio social composto de 5 pessoas. Desde então, tive as mais variadas experiências de trabalho: programar postagens em redes sociais, escrever textos para o blog da empresa, criar artes para eventos, diagramar materiais educacionais e editar vídeos.
Até então, nunca tinha pensado na possibilidade de trabalhar com essas coisas. Eu até tinha alguma experiência com produção de conteúdo na escola, pois eu e meus amigos brincávamos de “jornalistas”, criando e gravando vídeos de jornais e programas de TV. Além disso, até cheguei a ter um blog e canal do YouTube de mangás e animes na época do Ensino Médio. No entanto, considerava apenas brincadeiras para me divertir e passar o tempo, não um “chamado” do subconsciente deixando claro que esta sempre foi minha vocação.
E é aí que entra a questão do Ikigai. Resumindo porcamente, esta filosofia procura unir a vocação + propósito de vida + rentabilidade. Em todo a minha ainda curta carreira profissional, sempre tive a dificuldade de encontrar um direcionamento do que deveria ser o meu foco de trabalho. Como um pato, houve um período que queria abraçar todas as coisas, estudando os mais variados conteúdos, tentando abraçar o mundo, mas não sendo excepcional em nada, e isso sempre se refletiu quando perguntavam para meus familiares qual era meu trabalho. Minhas atividades eram tão abrangentes que não ficava claro para os outros e até para mim o meu ramo de atividade, pois hora estava diagramando alguma apostila, hora criando um site, hora montando um dashboard, hora editando um vídeo. Cheguei até a ser classificado como um “designer funcional”, no sentido de fazer o que tem que ser feito de forma eficiente e razoavelmente bem feita.
Mas apesar do generalismo ser até uma boa qualidade, com o tempo percebi que eu ainda era aquele mesmo estudante que sempre ficou “na média” – um pato. Porém, depois que me tornei um homem casado e com várias responsabilidades, percebi que ser medíocre não é mais suficiente para alcançar novos voos. Eu deveria decidir o tipo de profissional que gostaria ser, imitando aqueles colegas de escola que se esforçavam e realmente se dedicavam para atingir a excelência em suas notas. Pensar assim me ajudou a ser mais eficiente, criativo e ganhar mais dinheiro.
Apesar de ainda me interessar em vários assuntos e gostar de aprender sobre tudo, sinto que aos poucos vou deixando de ser aquele patinho da turma que não se destacava em algo e me tornando uma águia, certeira em com objetivo claro. Hoje, quando me perguntam com o que trabalho, digo claramente: “Sou Editor de Vídeo.”