“Você gosta de estudar?”
Acredito que a resposta seja “não” para a maioria das pessoas. Na minha opinião, isso é totalmente compreensível, pois a forma tradicional de estudar geralmente não é interessante, divertida ou prática. Por isso, é comum ouvir de estudantes algo como:
“Quando eu vou usar (insira algum tema) na minha vida?”
Talvez você mesmo já tenha dito algo parecido. Mas por que o ato de estudar é frequentemente visto de forma tão negativa? Simples: a causa não está apenas no “o que”, mas principalmente no “como”.
Afinal, demonstrar como um conceito se manifesta no mundo real torna mais clara sua aplicação e aumenta a chance de fixação do conteúdo apresentado. Porém, apesar de óbvio, infelizmente a maioria das instituições de ensino (em especial as públicas) não tem se mostrado eficaz em tornar o aprendizado cativante – o que é um grande problema. Mas qual é a solução?
É claro que estabelecer políticas públicas que estimulem um aprendizado mais prático e divertido é essencial. Porém, gostaria de apontar uma alternativa que pode ser aplicada por qualquer pessoa, independentemente da idade, classe social e nível de escolaridade: a autoaprendizagem.
O que é autoaprendizagem?
Conforme o livro The Science of Self-learning: How to Teach Yourself Anything, Learn More in Less Time, and Direct Your Own Education, de Peter Hollins, a autoaprendizagem é uma competência que parte da premissa de que o indivíduo “controla todos os aspectos de seu aprendizado, desde o interesse inicial até a aplicação prática”.
Aqui, não há “guardiões do conhecimento” que decidem o tempo, referências bibliográficas ou quais métodos de estudo serão utilizados para aprender. Você é o estudante e o professor ao mesmo tempo!
Dentre todos os benefícios da autoaprendizagem, destaco três:
- Maior nível de motivação;
- Mais flexibilidade;
- Garante um grande senso de autodesenvolvimento.
Vamos considerar cada um desses pontos com mais detalhes.
Maior nível de motivação
Voltando ao exemplo da escola, já aconteceu de você estar estudando sobre algum assunto e simplesmente “se forçar” a estudar por causa de uma prova que se aproxima? No meu caso, isso aconteceu várias vezes, como quando tive que virar a noite estudando química orgânica para não ficar com nota vermelha no bimestre. Deu certo? Sim, pois consegui passar de ano. Mas será que aprendi de verdade? Posso afirmar que não.
Esse exemplo mostra como a motivação influencia a retenção do conhecimento. Minha motivação era não reprovar, e não aprender de fato. Mas imagine se, na época, aquele conteúdo fosse apresentado por meio de experiências em um laboratório, em vez de pilhas de exercícios. Talvez meu trauma com a matéria de Química pudesse ter dado lugar a um interesse genuíno pelo tema.
Por outro lado, a autoaprendizagem exige que o combustível principal seja o entusiasmo e a paixão por adquirir novas habilidades e conhecimentos, o que permite mais liberdade e profundidade no aprendizado. Quando gostamos de um assunto, podemos passar horas lendo e estudando sem perceber, pois estamos tão imersos e engajados que o tempo simplesmente passa.
Mais flexibilidade
Ao contrário da educação tradicional, que dificultava o acesso ao conhecimento de forma independente, hoje há inúmeras maneiras de aprender – desde os tradicionais e ainda úteis livros até alternativas mais modernas, como vídeos, podcasts, audiobooks e cursos livres. Não é mais essencial matricular-se em uma faculdade para seguir uma trilha de aprendizagem de qualidade. Pelo contrário, a autoaprendizagem permite flexibilidade em relação ao tempo dedicado para estudar, aos meios utilizados, ao formato presencial ou online, e até aos métodos de avaliação escolhidos para comprovar o aprendizado.
Por exemplo, considere aprender a tocar um instrumento. Em vez de me matricular em um curso, eu posso simplesmente buscar no YouTube vídeos sobre o assunto. Talvez criar um programa de estudo que consiste em estudar teoria musical em um dia e praticar uma música no outro. Um autodidata é capaz de adaptar um plano de aprendizagem de acordo com a própria rotina e objetivos.
Garante um grande senso de autodesenvolvimento
Acredito que, dentre todos os benefícios, este é o maior: a sensação de ser uma pessoa melhor do que era antes de aprender algo. Aqui, não há mais a questão de não saber se você vai usar o que aprendeu ao longo da vida, pois é você quem está direcionando o aprendizado. Sendo assim, o propósito da autoaprendizagem está diretamente ligado à aplicação prática do tema na sua vida, seja no âmbito profissional ou pessoal.
Eu tive essa sensação quando me desafiei a aprender After Effects. Para mim, aprender a usar essa ferramenta parecia algo de outro mundo. Porém, sabia que, se me dedicasse, poderia aprender qualquer coisa. Comecei, então, a buscar cursos e tutoriais online que pudessem me ajudar nessa jornada. Após um bom tempo pesquisando, decidi comprar um curso em espanhol sobre o tema.
Apesar de não falar espanhol, gostei da qualidade das aulas e da lógica dos temas apresentados. Além disso, me esforçava em praticar as lições tanto no trabalho (já trabalhava com produção de conteúdos educacionais na época) quanto em projetos pessoais (que podem ser vistos no meu Instagram). Após algumas semanas, já me sentia mais confiante e passei a aplicar esses novos conhecimentos no meu processo de produção.
Portanto, dominar essa habilidade resultou em um impacto direto na qualidade do meu trabalho, aumentando a confiança nos meus projetos e, por consequência, gerando novas oportunidades de crescimento, mostrando que o esforço para se desenvolver é sempre recompensado.
Espero que essa reflexão tenha inspirado você a explorar o poder da autoaprendizagem. Independentemente de sua área de atuação ou fase de vida, desenvolver essa habilidade é uma forma de assumir o controle do seu próprio crescimento e abrir novas possibilidades, tanto pessoais quanto profissionais.
Nos próximos artigos, vou mostrar como podemos melhorar nossa capacidade de autoaprendizagem e algumas técnicas que facilitarão nosso aprendizado.
Nos vemos na próxima!