“Tecnologia deixa humanos com atenção mais curta que a de peixinho dourado, diz pesquisa.” Essa notícia é de 2015, mas sempre que me lembro dela, fico assustado com como a tecnologia mudou nosso comportamento.
Percebi isso quando ganhei meu primeiro celular. Era um daqueles Sony Ericsson W200 pretinhos, com um botão lateral “Walkman” para escutar música (cabiam apenas 15, aliás). Conforme baixava as músicas e joguinhos em Java, alguns hábitos começaram a mudar, como, por exemplo, usar uma segunda tela enquanto assistia à TV. Infelizmente, este último hábito se tornou um prenúncio de um grande problema que assola a sociedade atualmente: as pessoas estão cada vez mais perdendo a capacidade de se concentrar por longos períodos.
O pior é que a tendência é que isso se intensifique. Pense, por exemplo, no seu próprio uso de redes sociais. Atualmente, você consome mais o feed do Instagram ou se vê preso aos incontáveis stories e reels? Se sua resposta for a última, saiba que esse comportamento é planejado para ocorrer. Afinal, nosso cérebro possui um neurotransmissor que atua no sistema nervoso central chamado Dopamina, responsável por várias funções importantes, como regular o sono, dar motivação e proporcionar uma sensação de prazer.
“Tá, mas o que isso tem a ver com consumir stories?”
Eu explico. Conforme o livro “Nação Dopamina”, nosso cérebro possui uma espécie de gangorra que tenta equilibrar prazer e dor. Ao usar redes sociais excessivamente, acabamos pendendo essa gangorra para o lado do prazer, pois os estímulos nesses ambientes causam efeitos comparáveis a drogas potentes, como vício e dependência.
Pare para pensar: quantas vezes você abriu algum app de rede social no modo automático? Ou, quando acorda, pega imediatamente o celular para verificar notificações, e-mails ou conferir as atualizações de seus amigos?
Se sua resposta for sim para algumas dessas perguntas, talvez você esteja viciado, mesmo que não perceba. Eu cheguei a essa conclusão há algum tempo ao fazer um experimento: ficar duas semanas sem redes sociais.
Parece simples, não é? Porém, foi muito mais difícil do que imaginei. Sem perceber, eu entrava no Instagram ou Twitter mesmo querendo ver as horas ou usar o app de banco. Aqueles momentos em que eu tinha que aguardar um vídeo ser renderizado, esperar a comida esquentar no microondas ou até mesmo durante conversas eram preenchidos pelo uso das redes sociais.
Como um fumante que não consegue ficar muito tempo sem consumir cigarro, me vi entrando em abstinência. Uma espécie de “coceirinha” me consumia para entrar no Twitter e ver atualizações que com certeza não me agregariam em nada.
Apesar de os primeiros dias serem difíceis, com o tempo senti alguns benefícios em reduzir drasticamente o tempo gasto nas redes sociais, como aumento da concentração, redução da ansiedade, mais motivação para trabalhar e fazer exercícios, e mais tempo disponível para fazer coisas úteis como ler e escrever. Essa experiência abriu minha mente para perceber como estavam meus hábitos digitais e me incentivou a buscar meios de reduzir o estrago causado por toda essa explosão de dopamina.
Que tal tentar também? Te garanto que passar por esse “detox” pode mudar a forma como você enxerga o tempo gasto com redes sociais.
Afinal, ao contrário dos peixinhos dourados, temos a capacidade de nos tornarmos seres melhores a cada dia, basta querer.